Escola de Vela Oceano Florianópolis
Cursos de Vela Oceânica, Charter de Veleiro e Travessias Oceânicas
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| Escola de Vela Oceano - imagem carta náutica |
Por
Marcelo Visintainer Lopes
Instrutor
de Vela
Escola
de Vela Oceano
O rumo é uma das informações mais
relevantes que podem ser obtidas na carta náutica e a régua paralela é o
instrumento mais utilizado para isto.
Embora a régua tenha suas funcionalidades,
apresentarei aqui outras formas menos comuns para a obtenção do rumo.
São instrumentos pouco conhecidos, porém
muito mais práticos do que a régua.
Sabe aquele transferidor escolar de
360°?
É parecido com ele, mas não é ele.
O escolar pode ajudar nos exercícios em
casa mas não pode ser utilizado como instrumento de precisão.
O transferidor que utilizo é vendido nas
lojas de material para desenho técnico e se difere do outro pelo valor.
Enquanto um custa R$ 2,50 (em média) o
outro custa R$ 30,00.
Ele é maciço, robusto e possui um
único furo central.
Instalo um fio dental de
aproximadamente 50cm no furo coloco uma fita transparente por baixo.
O instrumento de precisão está pronto
para uso!
Tá achando que é brincadeira?
Posso garantir que não é!
Aprendi isto a uns 30 anos atrás
durante a travessia Porto Alegre – Rio Grande.
Enchi tanto o saco daquele cara que
ele acabou me mostrando como funcionava o transferidor.
Naquela época se contava nos dedos de
uma só mão os velejadores que conheciam os segredos da carta. Eles mantinham todo
o seu conhecimento em sigilo.
Aqueles caras eram muito requisitados
para transladar veleiros e embarcações a motor, pois não havia GPS.
Logo no início percebi que o
transferidor era mais rápido e eficaz do que a régua e passei a utilizá-lo com
frequência.
Pouco tempo depois descobri que ele era
usado também pelos aviadores.
O modelo utilizado por eles é mais
sofisticado. Possui uma régua móvel rebitada no furo central e é ela que faz o
papel do fio dental da minha versão.
O único senão é a necessidade de reacomodar
os dedos, já que atrapalham no momento de girar a régua.
O transferidor de 360° nada mais é do
que a rosa dos ventos portátil.
Com ele dispensamos o transporte do
rumo até a rosa.
Desta forma podemos trabalhar com a
carta em tamanho reduzido, dobrada e com apenas o trecho que nos interessa (entre
o ponto de partida e o de chegada).
Como utilizar o transferidor?
1.Coloque o furo central bem em cima
do ponto de partida.
2.Alinhe o norte do transferidor com o
norte da carta. Utilize os paralelos (linhas horizontais) e meridianos (linhas
verticais) como referências. O transferidor possui traços horizontais e
verticais que servem para alinhá-los aos paralelos e meridianos.
Ao alinhar o nortes obteremos um rumo
com 100% de precisão.
3. Estique o fio ou leve a régua até o
ponto de chegada e leia o valor. O valor está exposto na graduação existente na
borda externa.
Importante: os rumos obtidos na régua
paralela e no transferidor NÃO PODEM ser utilizados diretamente na bússola,
pois existe uma diferença (em graus) entre os dois.
O norte de referência da carta é o
geográfico (norte verdadeiro) e o norte da bússola é o norte magnético.
A diferença entra eles é chamada de
declinação magnética, mas isto é assunto para outra postagem.
Como utilizar a régua paralela?
1.Coloque a régua em cima dos pontos
desejados de saída e chegada (A e B por exemplo).
A régua paralela é formada por duas
réguas conectadas por barras de metal com pequenos botões que servem como
pegadores.
Segure firme um pegador e arraste o
outro em direção à rosa dos ventos.
Repita a operação até a régua cruzar “inteira”
pelo ponto central da rosa.
Faça a leitura na graduação da rosa
externa. Não utilize a rosa interna (falarei dela no futuro).
Preste atenção no seguinte: você saiu
de A e foi para B. A leitura é feita no lado do ponto B (aqui é fácil se
enganar).
Qual o motivo para utilizar instrumentos
alternativos?
Na vida real (lá fora quando o bicho
tá pegando) a régua paralela é um instrumento de uso complicado.
Para que tudo dê certo na obtenção do
rumo é necessária uma boa dose de calma e sorte, pois muita coisa pode ocorrer
até a régua chegar na rosa.
Erros no transporte da reta são bem
mais comuns do que você imagina.
Uma coisa é o barco estar atracado no
pier e a outra é o mar estar nervoso e balançado.
É justamente no deslocamento da régua
que a porca entorta o rabo, pois se ela mexer, ferrou...
A régua funciona bem nas grandes mesas
de jantar (em casa), nas grandes mesas dos navios e em veleiros de grande porte.
Outro inconveniente da régua
A régua permite a obtenção de apenas um
rumo por vez. Traça, avalia o fundo, transporta e lê (rezando pra não
desalinhar com o rumo original). Volta e repete para o próximo rumo... Uma
verdadeira lenda!
Neste ponto os transferidores são
imbatíveis ao permitir a obtenção simultânea de rumos.
A tomada de rumos alternativos
normalmente é utilizada quando o tempo piora ou está por piorar.
A partir de um ponto posso definir o
rumo para o abrigo A, para o abrigo B, para o abrigo C ou mesmo definir um rumo
seguro para águas abertas e profundas...
A rápida obtenção de rumos permite
agilidade na definição da melhor estratégia de enfrentamento.
ATENÇÃO
O mais importante nas duas técnicas é
a atenção nas informações contidas logo abaixo da reta do rumo desejado.
Nem sempre é possível ir direto de um
ponto, pois poderão haver obstruções no caminho.
Com muita atenção e calma, percorra
com os olhos todo o trecho entre os dois pontos e atente-se para a existência
de qualquer perigo à navegação (pedra, naufrágio, boia, ilha, ilhota, laje,
banco de areia etc.).
Depois de ter certeza que o rumo é
100% seguro você estará apto a ler o rumo no transferidor ou na rosa dos ventos.
E o rumo da volta?
O rumo contrário é chamado de rumo
recíproco.
Pegue o valor obtido e some ou subtraia
180°.
Se o valor obtido for menor que 180°,
some 180.
Exemplo: rumo de ida 100° (rumo de
volta 280°).
Se o valor for maior que 180°,
subtraia 180.
Exemplo: rumo de ida 190° (rumo de
volta 010°).
Anotação dos rumos
Os rumos vão de 000° a 360° e sempre
devem ser anotados e passados para o timoneiro sempre com três casas.
Se o resultado der 5°, anote 005° e na
hora de falar o rumo para o timoneiro, faça-o em alto e bom tom dizendo: rumo ZERO,
ZERO, CINCO (005).
É importante que ele confirme o rumo
escutado, repetindo-o para você (os números devem bater).
Se o resultado der 30°, anote 030° e
na hora de falar o rumo para o timoneiro, faça-o em alto e bom tom dizendo: rumo
ZERO, TRÊS, ZERO (030).
Deu pra entender?
Se ficou com alguma dúvida me chame no whatsapp 48988113123 que terei imenso prazer em ajudar!
Bons ventos!
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